Inteligência Artificial escrevendo livros e ilustrando capas? Entenda mais
Nos últimos dias, diversos debates nas redes sociais tiveram como pauta o mesmo assunto: o uso de ferramentas de inteligência artificial para a escrita e ilustração de livros.
Você já leu um livro escrito por uma inteligência artificial? Não?
Há semanas, livros com capas ou conteúdos feitos por IAs têm alcançado as primeiras posições nos rankings da Amazon. Confira um trecho abaixo. Você saberia diferenciar?
Como um livro escrito por IA é publicado?
Desde a popularização do ChatGPT em 2023, alguns usuários da web identificaram uma forma de monetizar os textos gerados pela ferramenta através do Kindle Direct Publishing (KDP). Esta plataforma pertence à Amazon e é utilizada por escritores independentes que desejam publicar os seus livros de maneira simplificada, recebendo royalties proporcionais e compatibilidade com os dispositivos de leitura mais populares para e-books.
No entanto, alguns usuários aproveitaram este mecanismo para utilizar a inteligência artificial para escrever livros em grande escala, sendo publicados mais de uma vez ao dia na Amazon, para lucrar com os royalties advindos das leituras obtidas.
Reconhecendo esta situação, a Amazon adotou algumas medidas para reduzir a submissão de e-books escritos por IAs na plataforma. Por exemplo, agora, só é possível submeter três livros por dia para venda na loja, e o autor precisa declarar manualmente que há conteúdos gerados por inteligências artificiais nos documentos carregados. As informações são do portal IGN Brasil.
Qual é o problema com livros gerados por inteligência artificial?
De modo geral, as diversas ferramentas de inteligência artificial disponíveis na internet precisam de fontes para gerar seus conteúdos, sejam eles em formato de texto ou imagem. Sendo assim, cada IA, com seu respectivo método, “escaneia” a internet em busca de informações que possa usar, que podem enriquecer seu ‘repertório’, seu banco de dados.
Isso significa que tais ferramentas se utilizam diretamente de obras autorais de escritores e outras artes criadas por artistas para compor suas produções automáticas, sem creditar os autores originais e sem o respectivo consentimento para a mimetização da obra nos resultados gerados pelas IAs.
Embora as ferramentas de inteligência artificial sejam constantemente treinadas para criarem conteúdos cada vez mais próximos daqueles que são desenvolvidos por seres humanos, há diversas limitações. No caso de textos, a IA cria com base naquilo que ela conhece – sendo assim, novas ideias, novos movimentos culturais e novas construções de histórias não são factíveis. O que é a literatura sem inovação, ou sem transformação, ou mesmo contestação?
Em ilustrações e artes para capas de livros, uma discussão recente aconteceu durante o Prêmio Jabuti 2023: uma edição do livro “Frankenstein”, de Mary Shelley, publicada pelo Clube de Literatura Clássica, foi desclassificada da premiação por ter sua capa cocriada por inteligência artificial. A edição havia sido indicada para a categoria de “Melhor ilustração do ano”.
Situações como essas tendem a desvalorizar e desrespeitar o trabalho de artistas e escritores que, além de exercerem forte impacto cultural com suas obras em seus países e no mundo, dependem da venda do seu trabalho para garantir sua subsistência. Afinal:
- As imagens geradas por inteligências artificiais, ao serem incluídas na capa de um livro ou em projetos de diagramação, podem conter traços de obras de artistas que não autorizaram a utilização de suas peças no aprendizado de IAs. Além disso, contribuem com a redução da demanda de trabalhos para os artistas.
- Os textos/livros escritos por inteligências artificiais, quando submetidos em massa a plataformas como o KDP, podem levar à redução dos royalties pagos aos autores pelo aumento súbito no número de publicações, prejudicando escritores tradicionais e que dependem das publicações contidas nestes sistemas.
- A avalanche de obras em sua maioria de baixa qualidade resultante da facilidade de produção em larga escala com o uso de IAs dificulta enormemente o acesso do público a obras de artistas que estarão ‘concorrendo’ em condições muito díspares; ou seja, o público estará muito mais exposto a essas peças discutíveis e menos exposto a novos autores originais ou de verdadeira relevância.
Qual é o meu papel nisso?
Agora que você compreende as problemáticas envolvendo o uso de inteligências artificiais para a criação de textos e imagens com fins comerciais, artísticos e/ou culturais, é importante aprender a identificar materiais gerados por IAs para minimizar o consumo no seu dia a dia. Confira algumas dicas:
- Imagens geradas por inteligências artificiais tendem a possuir um filtro “blur” removendo as imperfeições, especialmente quando tentam retratar pessoas e animais:
- Ao retratar seres humanos, algumas IAs têm dificuldade em gerar mãos, adicionando ou removendo alguns dedos nas imagens criadas:
- Textos escritos por IAs tendem a ser mecânicos e não fogem aos “lugares comuns” da escrita. Usam frases rebuscadas e exageradas. Além disso, criações de IAs configuradas inicialmente em língua inglesa, alguns trechos podem apresentar tradução descuidada, descontextualizada:
Na tranquila cidade à beira-mar, onde o horizonte se encontra com o oceano em um abraço eterno, as vidas de três estranhos se entrelaçaram de uma forma que nenhum deles poderia ter previsto. No centro desse turbilhão de emoções estava o segredo que cada um carregava consigo, um fardo pesado demais para ser suportado sozinho, mas que os ligava de maneira inextricável. E assim, enquanto o sol se punha sobre as águas calmas do mar, o palco estava pronto para o drama humano mais intenso que aquela pequena cidade já testemunhara.
(Texto gerado por inteligência artificial)
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