Por que é necessário que os intérpretes de conferência trabalhem em duplas para revezamento?
No código de ética de profissional dos intérpretes de conferência estabelecido pela AIIC – Associação Internacional de Intérpretes de Conferência, com sede em Genebra, consta que o intérprete “shall not, as a general rule, when interpreting simultaneously in a booth, work either alone or without the availability of a colleague to relieve them should the need arise”. Em tradução livre isso equivale a “o intérprete não deve, como regra geral, quando interpretando simultaneamente em cabine, trabalhar sozinho ou sem a disponibilidade de um colega para substituí-lo se houver necessidade.”
Essa regra tem como base o aspecto de saúde do profissional de conferência, que pode ser acometido de mal estar físico ou pressionado por necessidades fisiológicas e precisar ausentar-se da cabine. Se o intérprete precisar ausentar- se o colega irá substituí-lo sem que haja prejuízo para a conferência .
Isso sem falar no grau de concentração que o trabalho exige. Nenhum segundo pode ser perdido, – a atenção deve estar integral e inteiramente voltada para o que se ouve e ao mesmo tempo para o que se fala. Esse esforço deve ser atenuado para que a qualidade da tradução permaneça a mesma do começo ao fim do trabalho. Por isso também a necessidade de trabalho em duplas para revezamento. O momento em que um intérprete substitui seu colega é uma ocasião de descanso e recuperação mental e física (beber água, retomar o fôlego e o fluxo respiratório) para que a tradução flua sempre no mesmo ritmo, sem perda de qualidade.
Assim, entende-se que um profissional trabalhe sozinho apenas em conferências de no máximo uma hora de duração. Se o profissional estiver sozinho por um tempo maior, haverá risco de desgaste na qualidade do trabalho ou de interrupções indesejadas.
Sem falar no tópico que foi a abertura desse texto: ética. Um profissional que esteja disposto a trabalhar sozinho vai ferir o código de ética da categoria – e quem sabe quais outros códigos de ética mais ele vai estar disposto a quebrar? Quem, no mercado de hoje, deseja contratar um profissional sem ética? É um bom pensamento para os organizadores de eventos e contratantes de intérpretes em geral.
E não esqueçam: intérpretes são pontes humanas com nervos de aço!
O Intérprete!