Interpretar o Prêmio Nobel de Física? Ui…

Como se preparar para interpretar a palestra de um prêmio Nobel da Física?

Autora: Cláudia Muller
Revisora: Nani Peres

Penso em Física…

Há pouco tempo, fui convidada pela Meg Batalha a ser sua parceira de cabine na interpretação de palestra de Carl Wieman, prêmio Nobel de Física, no XXIV SNEF – Simpósio Nacional de Ensino de Física. Foi uma honra e uma experiência muito enriquecedora, mas devo dizer que para alguém como eu, Cláudia Muller, que sempre teve dificuldades com a matéria na escola, o primeiro sentimento foi de medo de não estar à altura da tarefa. Porém, acredito que só crescemos quando saímos da nossa zona de conforto e que o segredo de uma boa interpretação é uma boa preparação. Sendo assim, aceitei a tarefa e tratei de me preparar.

Palestra de Abertura – Carl Wiemann

Ao me preparar para um evento, grande ou pequeno, sempre procuro englobar três componentes principais:

  • o palestrante,
  • o assunto a ser tratado, e
  • o evento específico.

Sempre começando do macro e indo até o micro, ou seja, começando por aspectos mais abrangentes e terminando nos pequenos detalhes.

Sempre começo pedindo ao cliente todas as informações que estiverem disponíveis, não apenas porque isso facilita o trabalho de pesquisa, mas porque assim temos uma visão do que o cliente considera relevante. Neste caso específico, tivemos sorte e o cliente nos mandou o link do evento e a apresentação que seria usada pelo palestrante, algo que nem sempre acontece. Embora isso possa parecer o suficiente, é importante lembrar que na maioria das vezes a apresentação serve como guia para os palestrantes e não é um roteiro completo do que ele vai dizer.

Quais seriam então os próximos passos?

Comecei visitando o site do evento para entender qual o público-alvo, os assuntos das outras palestras e como a palestra que eu iria interpretar se encaixava no contexto. Isso ajuda a definir quais assuntos podem ser relevantes para a preparação e qual o caminho mais adequado a seguir nesse processo. E nesse processo, descobri que o foco do evento era o ensino de Física e não assuntos mais técnicos sobre o assunto.

Preparação adequada sempre traz bons resultados!

Em seguida, pesquisei a biografia do palestrante para entender um pouco mais sobre o seu universo e como isso estaria relacionado à apresentação que ele faria, afinal, se em sua apresentação ele mencionaria a experiência durante a pesquisa que lhe rendeu o prêmio Nobel, era importante ter uma noção sobre o assunto. Também pesquisei vídeos recentes de palestras feitas por ele com foco no ensino de física, para me familiarizar com o sotaque do palestrante, com a forma como ele se expressa e com o modo como ele segue a apresentação que usa.

O último passo foi mergulhar na apresentação que recebemos e que seria usada na palestra buscando entender os conceitos e mapear a terminologia que seria usada.

Ao longo de toda essa pesquisa, fui elaborando um glossário bilíngue com todas as palavras encontradas no material que me fizeram parar para pensar. Esse processo de pesquisa e elaboração do glossário é, para mim, a parte mais importante do estudo, pois me ajuda a mapear e trazer para a memória mais recente o universo terminológico relacionado ao trabalho. Neste processo também identifico os termos novos ou mais difíceis de lembrar e aos quais precisarei dedicar mais tempo de estudo e memorização.

Outra coisa  que considero importante desde o início da elaboração do glossário é compartilhá-lo com meu colega de cabine. Assim, podemos trabalhar de forma colaborativa, acelerando e enriquecendo o processo, além de ao final termos um bom alinhamento com relação à terminologia a ser usada.

Essa preparação requer tempo e atenção, mas é muito enriquecedora, sendo um dos componentes mais importantes para a entrega de um serviço de interpretação de boa qualidade.

No caso dessa palestra de Carl Wieman, prêmio Nobel de Física, o esforço valeu a pena e o cliente ficou muito satisfeito com o nosso trabalho. 🙂

Quero encerrar agradecendo à Meg Batalha pelo convite e pela parceria desde o início da preparação até o final do trabalho na cabine virtual. Foi uma parceria muito gostosa. E que venham outras oportunidades igualmente enriquecedoras.

Cláudia Muller:
Intérprete de conferência com experiência em interpretação simultânea, consecutiva e de acompanhamento atuando em conferências, palestras, treinamentos, visitas, reuniões e RSI (interpretação simultânea remota). Tradutora trabalhando com os idiomas inglês e português brasileiro há mais de 20 anos, especializada nas áreas de negócios, tecnologia (TI), educação, arquitetura, consultoria e meio ambiente. Proprietária da Müller Traduções e Interpretação. Formação: Tradutora e intérprete consecutiva e simultânea, inglês/português/inglês, Curso de Formação de Tradutores e Intérpretes da Associação Alumni, São Paulo, 2000; Bacharel em Comunicação Visual pela Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 1983.