Coletiva de imprensa: quer ter sucesso?

Consecutiva em coletivas de imprensa

Confesso que na minha experiência em interpretação simultânea e consecutiva, a consecutiva em coletivas de imprensa tem sido o maior desafio enfrentado até hoje.
Em geral, o cliente não fornece informações suficientes sobre o evento nem tem uma agenda ou roteiro, simplesmente porque é coletiva de imprensa. Informa o assunto e pronto.
Eis alguns aspectos fundamentais nos casos de interpretação consecutiva em coletiva de imprensa, que podem atrapalhar o trabalho do intérprete:
Ø  O intérprete está sozinho, i.e., sem concabino para dar uma força se necessário;
Ø  Em geral, quem organiza não pensa na importância da acústica da sala, aspecto fundamental para o desempenho do intérprete;
Ø  Uma vez iniciada a coletiva, o intérprete não pode interromper;
Ø  Não é possível consultar nossos glossários ou qualquer outro material de referência.
Com certeza, a pesquisa é fundamental, como bem explicou Rosario Garcia no artigo “Tradução Simultânea da área Médica: há remédio para isso?!”, e mesmo que não possamos consultar o glossário na hora de prestar o serviço, o fato de montá-lo ajuda muito.
Equipamento em ordem, intérprete bem preparado.
Em geral, as coletivas de imprensa são a respeito de um evento que já aconteceu ou que irá acontecer e os assuntos a serem tratados podem ser os mais diversos.
Certamente tem mais detalhes a serem levados em conta, mas com estes temos material suficiente para nossa análise.
No entanto, antes de fazer qualquer pesquisa, reflita se você consegue se apaixonar pelo assunto, pois a pesquisa tem que ser muito ampla. Os repórteres fazem perguntas que só quem é fanático sobre o tema poderá responder. Portanto, se você não conseguir se apaixonar pelo assunto, não aceite o trabalho.
Se você tiver aceitado o desafio:
Ø  Pesquise a respeito do evento que deu lugar à coletiva de imprensa, incluindo:
§  Antecedentes/notícias: com frequência surgem perguntas a respeito de eventos anteriores, portanto, é importante estar a par de qualquer marco.
§  Nomes das pessoas a serem entrevistadas e também de outras que possam não ser tão importantes, mas que também estejam envolvidas no evento – pode acontecer que o porta-voz mude no último minuto.
§  Conhecendo os nomes, pesquise a biografia e antecedentes de cada um e procure vídeos. O YouTube pode ser nosso grande aliado!
§  Marcas, nomes de países ou cidades envolvidos, ferramentas, tudo o que possa estar ligado ao tópico em questão.
Ø  Visite com antecedência o local designado para a coletiva de imprensa junto com a equipe de som e os organizadores do evento para verificar a acústica e ter certeza de que você vai conseguir ouvir tudo o que você tiver que interpretar. Se não for possível fazer essa pesquisa “física”, exija um fone de ouvido.
Ø  Se o programa da coletiva incluir uma visita às instalações, visite-as com antecedência e com tempo suficiente para poder também conversar com as pessoas que encontrar. Certamente elas serão fonte de informações de alto valor.
Ø  E se você tiver que interpretar durante a visita às instalações, com as pessoas em movimento, leve consigo dispositivos portáteis de tradução simultânea.
Ø  Marque um encontro com os porta-vozes antes do evento de forma a se familiarizar com o sotaque ou a pronúncia de cada um. Muitas vezes eles não estarão falando sua língua materna e nem sempre são pessoas acostumadas a falar em público.
Com base na minha experiência, estas seriam tarefas imprescindíveis para um bom desempenho nas coletivas de imprensa. Porém, não garantem sucesso absoluto. Sempre podem surgir surpresas… Mas um intérprete bem preparado vai conseguir muito melhor desempenho.
Dicas para os clientes do Catálogo!

Dicas para clientes

Agora, talvez você, leitor, não seja intérprete, mas um cliente à procura de um intérprete para uma coletiva de imprensa. Certamente, você procura um intérprete com excelente desempenho. Será que você pode contribuir de alguma forma?
Mesmo que as dicas para o intérprete já possam ter sido uma ajuda, é importante que você também leve em conta que, nós, intérpretes, não sabemos a respeito de tudo, mas, fora as línguas com as quais trabalhamos, nem todos somos especializados em todas as áreas. Não se espante, para cada ocasião estudamos muito para sermos especialistas a respeito do tópico daquele evento. Para isso, é fundamental contar com a maior quantidade de informações possíveis.
Ø  Se a coletiva for realizada depois do evento que a convoca, permita que o intérprete assista ao evento ou forneça um resumo do mesmo.
Ø  Forneça ao intérprete o release que convoca os jornalistas para a coletiva de imprensa.
Ø  Compartilhe com o intérprete um roteiro incluindo o leque de tópicos a serem tratados.
Ø  Informe a respeito de marcos que possam chamar a atenção da mídia (acidentes, vitórias, assinatura de acordos, etc.).
Ø  Forneça os nomes dos porta-vozes e repórteres: se inicialmente houver vários, informe todos os nomes.
Ø  Informe as razões pelas quais o evento foi/será realizado nessa cidade/nesse país.
Ø  Se possível, marque um encontro com o intérprete antes do evento, preferentemente, um dia antes, para verificar todos os detalhes.
Ø  Arranje um encontro do intérprete com o(s) porta-voz(es) antes da coletiva, mínimo de 30 minutos.
Ø  O som é fundamental para o bom desempenho. Se o intérprete não puder ficar do lado do porta-voz, garanta ele possa usar fones de ouvido.
Ø  Se a coletiva incluir uma visita às instalações, programe uma visita às instalações antes do evento.

Muito sucesso na sua coletiva de imprensa!

Cristina Pilon em ação!

Cristina Pílon:  Nativa em português e espanhol, formada como tradutora juramentada na UDELAR, UY, (2001), especializando-se mais tarde em interpretação consecutiva e simultânea na Inlingua School of Languages, Arlington, VA, EUA, trabalha desde 2001 como intérprete e tradutora para empresas e organizações em vários países das Américas e da Europa, sendo membro da equipe permanente de intérpretes de algumas delas. Esta formação é complementada por sua experiência em pedagogia. Formada em pedagogia Waldorf em 1992, lecionou em torno de doze anos nessa pedagogia no Uruguai, no Brasil e no Peru. Por um período de dois anos foi também professora de português na UDELAR, Uruguay, no curso de tradução juramentada.