A Linguagem do Ganha-Ganha

Cooperação: a Linguagem do Ganha-Ganha que se fala em qualquer idioma e em qualquer nação.

Autora: Jacqueline Moreno
Revisora: Nani Peres

Os Jogos Olímpicos de inverno e de verão se tornaram uma tradição global. O primeiro evento  na Era Moderna aconteceu em Atenas em 1896 e se difundiu nos cinco continentes. A XXXII Olimpíada Tóquio 2021 conta com 46 modalidades esportivas e a participação de mais de 200 países, apesar da pandemia do Covid-19. As transformações que atravessaram os séculos potencializaram ainda mais a força motriz que rege o evento: a competição, onde sempre haverá vencedores e perdedores.

E será que há espaço para a cooperação? Como os atletas podem se unir em prol de um único propósito, além das suas metas pessoais? Há lugar no pódio para defesa de bandeiras humanitárias além da exibição das bandeiras das nações campeãs?

Na Folha de São Paulo do dia 20/07/21, o colunista Marcelo Carvalho- idealizador e diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial – noticiou que manifestações políticas no pódio estariam proibidas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).  Por outro lado, posicionamentos nas redes sociais, participação em entrevistas coletivas e gestos em defesa de direitos humanos e cidadania seriam permitidos.

A medalha é o esforço continuado por um objetivo

No texto,  o COI enfatiza que cerimônias de entregas das medalhas são um momento de homenagem aos vencedores e não devem competir com “questões particulares”.  Marcelo Carvalho questiona; “a causa antirracista deve ser encarada como particular?”  E quando pensamos na homofobia, no feminicídio, na crescente violência contra crianças, nos abusos sexuais, nas imigrações forçadas em consequência de guerras, no desmatamento de florestas, nas mudanças climáticas, nas vítimas de pandemias e nas democracias ameaçadas: temos o direito de nos abster de qualquer posicionamento de interesse público em nome da euforia e de comemorações?

É chegada a hora de dar chance à cooperação e ao estado de reflexão. A justiça social é uma missão que se conquista com união de propósitos entre nações e uma vontade extraordinária de querer virar o jogo a favor do placar “ganha-ganha”. Já pensou todo mundo torcendo para um time só e aplaudindo juntos a diversidade, a paz e a inclusão e perceber que ninguém ficará para trás?

Nos jogos olímpicos que iniciaram dia 23 de julho e seguem com os paraolímpicos até o dia 8 de agosto, teremos mais uma vez  revelações e superação dos limites humanos.  Mas o que  poderia realmente ficar como possível mudança de paradigma seria  a busca de novos meios de quebrar o recorde da evolução da nossa própria humanidade. Por que não se aproveita a concentração de bilhões de telespectadores nos jogos  em prol de uma grande campanha de doações sem fronteiras para ajudar nações mais necessitadas, por exemplo? 

Momento Mágico  

Somos pontos de luz conectados pelos nossa humanidade!

Esses questionamentos nos levam para um momento mágico! Imagine  um campeonato com  atletas paraolímpicos diversos tendo como meta, alcançar juntos a linha de chegada. No caminho, o cego percebe que só consegue ir adiante com ajuda do surdo para guiá-lo. O surdo por sua vez precisa do apoio do cadeirante para sinalizar o momento da largada. O ciclista  com pernas biônicas compreende o valor do equilíbrio de forças quando se beneficia da velocidade  coletiva do pelotão. A cooperação é  o sucesso de toda essa sinergia quando todos chegam juntos à linha de chegada

Quem sabe na próxima XXXIII Olimpíada, Paris 2024, seja possível criar espaços de cooperação  onde mensagens de convivência pacífica sejam ovacionadas nos  pódios?  Quem sabe mensagens humanitárias agreguem muitos seguidores e sejam campeãs de “likes” e  compartilhamentos  nas redes sociais?

A esperança não é “última a morrer”, mas é sim a primeira a ressuscitar. A poesia de Mário Quintana é um convite para se conjugar  em todos os tempos, o verbo cooperar com senso de urgência como também de permanência.

Olimpíadas de Tóquio 2021

“Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano

Vive uma louca chamada Esperança

E ela pensa que quando todas as sirenas

Todas as buzinas

Todos os reco-recos tocarem

Atira-se

E

— ó delicioso voo!

Ela será encontrada miraculosamente incólume

na calçada,

Outra vez criança…

E em torno dela indagará o povo:

— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?

E ela lhes dirá

(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)

Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:

— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA”…

Mario Quintana

*Jacqueline Moreno é tradutora, intérprete, produtora de conteúdo e integrante da rede do Catálogo de Tradutores.

Links relacionados:

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcelo-carvalho/2021/07/alem-da-festa-olimpiada-deveria-ser-tambem-espaco-de-lutas-humanitarias.shtml

https://www.suapesquisa.com/olimpiadas/lista_jogos_olimpicos.htm

Texto extraído do livro “Nova Antologia Poética”, Editora Globo – São Paulo, 1998,pág.18.Fonte: www.portalraizes.com/esperanca-por-mario-quintana