A influência cultural da literatura francesa no Brasil – Localização e Tradução
A edição e a tradução de literatura francesa no Brasil têm um longo histórico, o qual reflete a influência cultural que a França exerceu sobre nosso país. A tradução de obras literárias desempenhou um forte papel na disseminação de clássicos e contemporâneos da França, permitindo que leitores brasileiros tivessem acesso a diversas opções de títulos renomados. Aqui, vamos abordar especificamente algumas influências literárias, mas cumpre lembrar que, além do campo literário, a tradução da produção francesa em psicanálise, linguística, sociologia e antropologia se fizeram presença fundamental no repertório científico, cultural e acadêmico brasileiro.
Continue lendo para conhecer mais sobre a literatura francófona e a sua participação na história e cultura brasileira.
História da literatura francesa recente
Século XIX e Início do Século XX
Durante o século XIX, a França era considerada um farol de cultura e sofisticação no Brasil. A elite brasileira frequentemente estudava em Paris e trazia obras literárias francesas ao retornar às terras nacionais, o que estimulou a publicação de tais obras no Brasil.
A literatura francesa começou a ser traduzida e publicada nesse período, com obras de autores como Victor Hugo, Honoré de Balzac e Alexandre Dumas, o pai e o filho, ganhando popularidade, seguidos por Gustave Flaubert, Émile Zola e Guy de Maupassant, para citarmos apenas os mais famosos.
Modernismo e Avant-garde
No início do século XX, as vanguardas europeias nas artes deram o tom da virada de século. O movimento modernista no Brasil, marcado pela Semana de Arte Moderna de 1922, também foi fortemente influenciado pela literatura francesa. Autores como André Breton e os surrealistas tiveram enorme impacto, trazendo novas e variadas perspectivas para a escrita.
Além disso, as traduções de obras de escritores renomados como Marcel Proust e André Gide começaram a aparecer, permitindo que o público brasileiro tivesse acesso a essas importantes contribuições literárias. Esse intercâmbio cultural ajudou a consolidar a identidade do modernismo brasileiro, enriquecendo o cenário literário com novas ideias e estilos.
Em outras áreas, a influência também se multiplicava: a vinda do antropólogo Lévi-Strauss em 1935 ao Brasil, integrando a missão francesa que participou da criação da Universidade de São Paulo, deve ser o caso mais emblemático.
Pós-guerra e contemporaneidade
Após a Segunda Guerra Mundial, houve um significativo aumento na tradução da literatura francófona contemporânea para o português, trazendo para os leitores brasileiros obras de renomados autores como Albert Camus, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Esses escritores não apenas enriqueceram o panorama literário, mas também influenciaram profundamente a literatura e o pensamento crítico no Brasil e no mundo.
Na contemporaneidade, a tradução de autores como Patrick Modiano, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, e Michel Houellebecq, considerado por muitos críticos o maior autor francês dos dias atuais, continua a atrair leitores brasileiros, expandindo ainda mais o interesse e a apreciação pela literatura francesa moderna.
Na literatura dramática, cumpre assinalar ao menos Antonin Artaud e Jean Genet dentre os principais do século XX. E a roteirista Yasmina Reza vem se destacando cada vez mais entre os contemporâneos. Isso para não citar diretores expressivos como a inescapável Ariane Mnouchkine.
A literatura francesa no Brasil
Influência e impacto cultural
Ao longo dos séculos, obras de escritores franceses influenciaram a produção literária nacional, contribuindo para a formação de uma base cultural rica e diversificada. Autores fundamentais como Machado de Assis e Guimarães Rosa foram significativamente impactados pela estética e pelos temas explorados na literatura francesa, o que se refletiu em suas próprias obras.
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A inclusão de obras francesas nos currículos escolares no Brasil representa a importância cultural que tais publicações têm no país. Livros como “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, e “O Estrangeiro”, de Albert Camus, são frequentemente estudados por estudantes brasileiros, proporcionando uma compreensão mais profunda da literatura mundial e suas diferentes perspectivas.
No entanto, a tradução literária não está isenta de desafios. Tradutores precisam conhecer nuances culturais e estilísticas complexas para manter a autenticidade dos textos originais, e isso se estende para a tradução de textos em francês. Por outro lado, o cenário atual apresenta várias oportunidades para a expansão da literatura francesa no Brasil: com o aumento do interesse por literatura internacional até nos vestibulares, há uma demanda crescente por traduções de qualidade, oferecendo um ambiente potencial de expansão para o mercado editorial.
Principais tradutores e editoras
Dentre as principais editoras que realizam publicações de autores franceses no Brasil, destacam-se a Editora 34, Cosac Naify e Companhia das Letras. Alguns tradutores de destaque são:
Benedito Nunes: Conhecido por suas traduções de Jean-Paul Sartre, Benedito Nunes teve um papel fundamental na introdução do existencialismo francês no Brasil. Suas traduções ajudaram a popularizar as ideias filosóficas de Sartre, contribuindo para debates acadêmicos e intelectuais no país.
Boris Schnaiderman: Tradutor de várias obras literárias francesas e russas, Schnaiderman foi um acadêmico prolífico que trouxe ao público brasileiro uma vasta gama de literatura estrangeira. Suas traduções são conhecidas pela precisão e pela capacidade de capturar a essência dos textos originais, proporcionando ao leitor brasileiro uma experiência imersiva no conteúdo.
Aurora Bernardini: Tradutora de autores como Roland Barthes e Alain Robbe-Grillet, Bernardini é uma figura importante no campo da tradução literária no Brasil. Além de suas traduções, ela também contribuiu com críticas literárias e ensaios, ajudando a contextualizar e interpretar as obras francesas para o público brasileiro.
Luciano Loprete tem se dedicado à tradução para teatro: Exercices de Style, de Raymond Queneau, adaptada com o título de Você vai ver O que você vai ver, estreia estrondosa do diretor Gabriel Villela na cena teatral em 1989. Fez uma nova tradução de A Queda, de Albert Camus, adaptada e dirigida por Aury Porto. Entre suas peças publicadas em livro contam-se Migraaaantes, de Matei Visniec; Rien à Faire (Nada a fazer) de Fabrice Hadjadj, entre outras publicadas pela É Realizações. Traduziu também contos e romances como O Convidado Desconhecido, de Olivier Cadiot e As Formigas da Estação de Berna, de Bernard Comment para Ed. Estação Liberdade. Em psicologia e antropologia traduziu O Cinema ou o Homem Imaginário, ensaio de Edgar Morin e A Subversão do Ser, de Mauro Maldonato. Do português ao francês, traduziu Amazonas, Pátria da água, de Thiago de Mello; e Lasar Segall, uma biografia de E. Klabin. Luciano é da rede Catálogo de Tradutores.
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