África: conheça esse mercado da interpretação
Autora: Biana Virgy
Editora: Meg Batalha
Biana Virgy, Moçambicana, residente no Quénia; actualmente no curso de Interpretação Português>Espanhol no Instituto Lucille Barnes. Com o surgimento da pandemia de Covid-19, todos nós ficamos muito apreensivos sem saber se poderíamos seguir trabalhando, como seria o nosso futuro etc. Com isso, eu decidi procurar cursos à distância para melhorar na interpretação e também expandir o leque de idiomas.
Como foi que conheci o Instituto Lucille Barnes?
Por meio do LinkedIn (muito obrigada, Romina Eva Pérez Escorihuela), Intérprete e tradutora ING, PORT, ESP na Argentina, eu procurei saber sobre cursos à distância e ela me falou da USAL e do Instituto Lucille Barnes. Ela me deu todos os links para eu procurar saber mais sobre os cursos. Dai, fiquei sabendo que a USAL já não tinha vagas mas o Instituto Lucille Barnes acabava de abrir uma segunda turma onde eu fiquei em stand-by aguardando um número suficiente de alunos para arrancar com o curso. Fiz a entrevista para ingressar no Instituto Lucille Barnes depois fui aceite para fazer parte do curso acima citado. Essa é uma combinação de línguas que não tenho e, quem sabe outras portas vão abrindo? Apesar de eu falar e escrever um Português africano, eu sinto consigo me encaixar neste curso. Estou muito feliz por estar a fazer este curso e tenho um bom professor, o Fabrício Pinto Santos. Sem dúvidas um excelente professor!
Porquê um curso tão longe num outro Continente?
Bem, acho que hoje em dia a pandemia veio mostrar que com boa vontade tudo é possível. Sou a única aluna do Continente africano a frequentar este curso e fiquei lisonjeada ao receber todo o amor e carinho tantos dos professores, como da Directora Lucille Barnes e dos colegas tanto do primeiro ano do curso como no segundo ano do curso. A diferença horária que nos separa, não impede que eu siga aprendendo. Este é o meu segundo ano e estou aprendendo muito com o curso, a Romina tem razão, com o excelente professor que tenho já posso notar o antes e o depois. Foi a melhor coisa que aconteceu e é uma honra participar no curso à distância.
Vou falar um pouco sobre a interpretação no contexto da região da África Oriental, mais precisamente do Quénia. O Quénia faz fronteira com a Etiópia, Somália, Sudao, Tanzania e Uganda. Compartilha o lago Victoria um dos Grandes Lagos africanos e o maior lago de África em termos de área (59,947km2, maior lago tropical africano com 41 metros de profundidade, segundo maior lago de água doce.
Não existe uma associação de Intérpretes e tradutores nesta parte de África. A maioria de nós trabalhamos em regime freelance, e somo contratados pelas várias organizações Internacionais, ONG’s, Nações Unidas, União Africana; a maioria dos profissionais são membros da AIIC. Como Nairobi também acolhe a UNON, escritório de Nações Unidas em Nairobi, assim como a União Africana com a sua Sede em Addis Ababa na Etiópia, sempre há reuniões que precisam de intérpretes. Estes dois gigantes, têm os intérpretes residentes ou seja, são funcionários permanentes mas sempre precisam de freelancers.
Os idiomas de trabalho da União Africana são nomeadamente Inglês, Francês, Árabe, Swahili, Português e Espanhol (Guiné Equatorial é a única colónia espanhola em África). Agora começam a aparcer trabalhos de língua Somali.
O Swahili é falado no Quénia, Tanzânia, Ruanda, Burundi e em algumas partres da R.D. do Congo, Maláwi, norte de Moçambique, Madagáscar, Ilhas Comoros, Sudão do Sul e Uganda entre outros. Eu me comunico em Português, Inglês, Francês, Espanhol, Swahili e dois dialetos do Sul de Moçambique; no momento, escolhi trabalhar do Inglês>Português e quem sabe brevemente Espanhol>Português; espero que algum dia me desperte o apetite de trabalhar com outras combinacoes de linguas 😊.
Tarifa de interpretação?
Não temos uma tarifa fixa mas as organizações têm o seu preço padrão que é pago por dia/hora para interpretação, e conbra-se por palavras para tradução de documentos. Quando se viaja para fazer interpretação fora do Quénia, as despesas dos custos de viagem, perdiem etc. são pagos pelos organizadores. Sempre fica ao critério do organizador a tarifa de interpretação. As Nações Unidas e União Africana, têm o seu padrão fixo; quando são clientes individuais, sempre temos que negociar o que dificulta muito pois nem todos querem pagar o justo. É uma profissão gratificante e a maioria dos freelancers ainda temos muito que aprender.
Desafios enfrentados?
Por experiência própria de trabalhar como (freelancer), tenho enfrentado desafios pelo facto de que nao sempre recebemos documentação/informação prévia sobre o trabalho a ser feito, o tema da reunião é desconhecido até ao dia do evento; Isso dificulta o trabalho pois é sempre surpresa, e dependendo do tema da reunião tudo pode ficar complicado. Muitas das vezes somos contratados por meio de “intermediários/agentes”, e eles não têm acesso à documentação; com isso, não é possível preparar glossários ou se preparar adequadamente para reuniões de teor jurídico ou médico por exemplo. É muita pressão para o intérprete freelance ☹.
Por outro lado, quando são eventos organizados por Nações Unidas, a União Africana ou outras organizações, com sorte recebemos alguma documentação mas nem sempre é o caso, tudo depende dos clientes que nos contratam.
Quanto à RSI, também existem vários desafios por conta da conexão de internet quando há sérios problemas de conectividade por parte do provedor, pois a internet nem sempre é confiável salvo quando são eventos de Nações Unidas e eles acomodam os intérpretes lá no recinto. Eu agora apostei por um provedor de internet mais fiável e estou mais contente com a internet que tenho.
Este é um pequeno resumo da minha experiência em África e fico grata à colega Meg Batalha por me ter apresentado ao CAT.