A riqueza por trás da Audiodescrição

Por que aprender a audiodescrever?

Autora: Ligia Ribeiro

Se fizermos essa pergunta a alguma pessoa completamente leiga no assunto, ela certamente dirá que não há sentido algum em realizar um curso para descrever uma imagem; basta transmitir os elementos que a compõem. Ledo engano. Há várias nuances que impactam no entendimento da descrição de imagens pelas pessoas com deficiência de visão parcial ou total.

A audiodescrição transforma o visual em uma linguagem verbal, seja de imagens estáticas como fotografias, esculturas, pinturas, ou de imagens dinâmicas como peças de teatro, eventos culturais ao vivo, videoaulas, espetáculos de dança, eventos esportivos, palestras, eventos religiosos, musicais, programas de TV, entre outros.

A descrição de uma imagem estática, por exemplo, de uma fotografia, precisa abranger os detalhes mais relevantes e de forma sequencial para que as pessoas com deficiência visual possam entender o que nela está sendo mostrado. Para isso, é preciso conhecer muito bem a gramática e ter uma ótima escrita, além da habilidade em descrever os detalhes mais relevantes, mantendo-se imparcial, sem induzir aquele que está ouvindo a julgamentos pré-definidos. É preciso saber o uso correto de verbos, de adjetivos e de outros elementos que compõem uma descrição. E essa técnica só é obtida por meio da assimilação de conceitos próprios da audiodescrição, juntamente com o treinamento, para que o conteúdo seja solidificado.

As pessoas com deficiência visual precisam receber as mensagens de forma clara, coesa e precisa, sem entraves que possam atrapalhar a compreensão da informação que está sendo transmitida. Para cada trabalho de audiodescrição é elaborado um roteiro, que engloba técnicas e diretrizes inerentes a esse processo. A pesquisa também faz parte desse trabalho.

“O essencial é invisível aos olhos”. Exupéry

No caso de uma audiodescrição de uma escultura, por exemplo, é vital que o audiodescritor busque informações sobre o autor da obra, a época em que ela foi criada, os materiais utilizados para a sua elaboração, o local onde ela está sendo exibida e outros pormenores que darão subsídios para que as pessoas com deficiência visual possam assimilar as informações e compreender a intenção do autor na criação da sua obra.

O estudo acadêmico é o que proverá excelência aos trabalhos de audiodescrição, que também precisam ser avaliados por um consultor com deficiência visual. O consultor tem um papel fundamental na audiodescrição. É essencial que ele seja uma pessoa com deficiência visual, capaz de avaliar as construções tradutórias realizadas pelo audiodescritor. E para isso, é necessário que esse profissional tenha conhecimento sobre o que está sendo audiodescrito e, principalmente, domínio do idioma, para que possa revisar o texto de forma clara e coesa mantendo adequação da linguagem ao público ao qual a audiodescrição se destina.

A audiodescrição está presente em todas as áreas, por exemplo: empresas privadas, no que tange a veiculação de materiais institucionais, comerciais sobre produtos e serviços; órgãos públicos, como: secretarias de cultura (eventos culturais, obras de arte, teatro, cinema, musicais, TV, exposições, shows, festivais, música, pintura, dança, poesia, arquitetura, escultura), de educação (videoaulas, livros educacionais), de turismo (visitas guiadas, excursões) e do esporte; segmentos políticos (campanhas gravadas ou ao vivo), religiosos (casamentos, batismos), entre outros.

 

A audiodescrição e a importância de um bom audiodescritor profissional

A audiodescrição requer a conciliação da formação acadêmica com a prática. É inegável que o estudo das técnicas da audiodescrição resulta em um trabalho altamente qualificado, gerando benefício às pessoas com deficiência visual e retorno econômico satisfatório às empresas e aos clientes que incorporam a audiodescrição ao seu portfólio de serviços. Hoje, a imagem e a avaliação de uma empresa perante os seus clientes e o mercado têm como parâmetros não só os produtos ou os serviços que ela oferece, mas também a sua preocupação com a sustentabilidade, com a preservação do meio-ambiente, com os problemas sociais das comunidades e com a acessibilidade; e a audiodescrição faz parte desse contexto.

A escolha do que será audiodescrito, o tipo de linguagem adotada, o detalhamento de características físicas de locais e de pessoas, o vocabulário utilizado, o foco da descrição e demais elementos que compõem uma audiodescrição são técnicas obtidas por meio do aprendizado. As escolhas assertivas proporcionam às pessoas com deficiência visual a compreensão dos conteúdos imagéticos ou dinâmicos disponibilizados pela audiodescrição. E para que isso seja possível, é preciso estudo constante dos profissionais que realizam projetos nessa área.

Um audiodescritor especializado beneficia o cliente, que busca excelência no serviço prestado, as pessoas com deficiência visual, que podem absorver um conteúdo com qualidade, e o próprio profissional, que tem o seu trabalho reconhecido e valorizado.

Um planeta igualitário

 

Ligia Ribeiro – Tradutora e audiodescritora
Revisão: Ana Julia Perrotti Garcia e Nani Peres
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