Desafios de um intérprete iniciante

Por onde começar na carreira de intérprete?

Minha jornada deveria ter começado em 2013. Depois de dois anos (e uma pequena fortuna) investidos em um curso de formação, eu finalmente tinha em mãos meu diploma de Tradutor e Intérprete. Àquela altura, já atuava profissionalmente no campo da tradução escrita havia algum tempo, mas tinha o forte desejo de trabalhar também como intérprete de conferência. A questão que me afligia e que, acredito, aflige muitos na mesma situação era: como começar?

Uma boa escola é essencial para o sucesso!

Durante o curso, desenvolvi várias das habilidades necessárias para realizar de forma competente uma interpretação simultânea ou consecutiva. No entanto, pouco ouvi, por exemplo, sobre os vários trâmites que precedem o momento de ligar o microfone e começar a interpretar; muito menos sobre o que são consideradas boas práticas no relacionamento com os colegas ou sobre como se organizar financeiramente nesse mercado que sofre flutuações sazonais tão intensas.

Minha primeira experiência profissional em uma cabine de interpretação, na verdade, só aconteceu no final de 2016, depois uma série de tentativas e erros ­­(além de algumas rasteiras da vida). Nos últimos cinco anos, desde aquele “falso começo”, creio que aprendi algumas lições. Mas continuo, aos poucos, aprendendo a lidar com os dilemas e desafios de ser um novato nessa profissão – e é sobre alguns deles que quero tratar.

Clientes, onde estão vocês?

Meu primeiro choque ao cair no mercado logo depois de me formar foi perceber a dificuldade de conseguir clientes diretos sem ser indicado por alguém. É bem verdade que, hoje em dia, uma série de ferramentas virtuais facilitam o encontro de contratantes e prestadores de serviço (seja qual for o serviço em questão). Mesmo assim, parece que nada substitui a recomendação de alguém em quem o potencial cliente já confie. E, no caso específico da interpretação, descobri que, exceto para os que já têm uma rede de contatos privilegiada, o caminho para conquistar referências desse tipo é longo e árduo.

Marketing? Que gosto tem?

As redes sociais são uma verdadeira Babel…

Dita o consenso que a principal estratégia nesse sentido é se fazer conhecido no mercado, tanto para potenciais clientes quanto pelos colegas, da maneira mais positiva possível. É um processo que muitas pessoas encaram com naturalidade. Já outras – talvez, como eu, avessas à superexposição e inseguras quanto à imagem de si mesmas que projetam para o mundo – se veem forçadas a quebrar uma série de barreiras, além de recorrer a muita pesquisa e ao eventual auxílio de entendidos no assunto. Novamente, a quantidade de material disponível on-line (sobre, por exemplo, como criar ou aperfeiçoar o currículo, impulsionar o perfil no LinkedIn ou desenvolver um site de sucesso) é copiosa. A dificuldade maior, pelo menos para mim, está não em aprender técnicas de autopromoção, mas em adaptar essas técnicas a uma personalidade profissional que ainda está sendo descoberta e a um mercado pouco conhecido e estudado por profissionais do marketing.

Que intérprete sou eu?

Um dos aspectos determinantes dessa personalidade é a tal da especialização. Sempre li e ouvi dos colegas que é comum (quando não desejável ou até necessário) que o intérprete, assim como o tradutor, se concentre em uma área específica do conhecimento. Inclusive sei de muitos profissionais que frequentemente recusam trabalhos quando o assunto foge muito do campo com o qual eles têm mais afinidade. A questão que fica é: a menos que o intérprete seja egresso de outra profissão, como vai adotar uma especialização logo de início, sem ter experiência? E como vai adquirir experiência (e pagar as contas…) recusando oportunidades de trabalho que o forcem a sair da sua zona de conforto?

Tem desconto?

Por falar em zona de (des)conforto, um dos aspectos do trabalho autônomo que mais me causa ansiedade é o da negociação. Saber precificar bem a própria mão de obra, oferecendo tarifas que não desvalorizem o trabalho nem a classe como um todo e ao mesmo tempo não espantem o potencial cliente; ter argumentos convincentes que justifiquem os valores oferecidos, além de manter a calma e o tom profissional durante todas as interações (mesmo quando a outra parte reage mal à proposta que lhe foi enviada), para mim, é uma arte – uma arte que, como qualquer outra, só se domina com muita dedicação e estudo.

Aprender (mais) é preciso

Estudar é bom, mas usar o conhecimento é melhor…

Um mantra sempre repetido pelos professores durante a minha formação e reforçado nos congressos e seminários dos quais tenho participado é o de que o intérprete precisa se atualizar constantemente. Na verdade, vejo a busca por aprimoramento profissional como um movimento cada vez mais comum entre os intérpretes da minha geração. No entanto, apesar do crescente número de bons cursos livres de formação e aperfeiçoamento de intérpretes, percebo uma lacuna profunda na oferta de cursos de pós-graduação em interpretação no Brasil. Isso me parece ruim, primeiramente, do ponto de vista comercial, já que muitas vezes lidamos com um público-alvo conservador, que valoriza o diploma acadêmico tanto quanto ou até mais do que a experiência prática. Além disso, a reflexão e produção de conteúdo em nível acadêmico sobre o ofício do intérprete ajuda a dar legitimidade à profissão; portanto, todos nós perdemos quando não há espaços ou incentivo para que esse movimento aconteça.

Só existe amor em SP 

Não bastasse a carência de cursos, à medida que nos afastamos dos centros urbanos, os desafios para encontrar clientes e promover o nosso trabalho ganham proporções dramáticas. E nem é preciso ir muito longe. Na cidade onde moro, por exemplo, a menos de 250 km da capital paulista, não há registro de nenhum outro intérprete profissional. Ainda assim, mesmo depois de um trabalho de prospecção e marketing com mais de 60 empresas locais, no último ano não recebi pedidos de orçamento para trabalhos na região.

Enfim…

Como se diferenciar no meio da turba?

Imagino que muitas dessas dificuldades sejam comuns à maioria dos intérpretes iniciantes. Por me considerar um deles, não me atrevo, ainda, a propor soluções. Sigo buscando fazer parte desse mercado difícil e apaixonante, testando estratégias e fortalecendo minha rede de contatos. Enquanto a estabilidade não chega, que tal trocarmos figurinhas? Escreva nos comentários se a sua dificuldade é parecida ou diferente da minha e o que tem feito para driblar isso. Juntos somos mais fortes!

Autor: Wagner Pimenta – Intérprete e tradutor
Revisora: Kelli Semolini – Intérprete e tradutora

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Challenges of a beginning interpreter

My journey should have started in 2013. After two years invested in a training course (along with a small fortune), I finally had my Translating and Interpreting diploma in my hands. By then, I had already been working with written translation for some time, but my desire was to work as a conference interpreter as well. The thing that worried me, and which I believe worries many others in the same situation, was how to get started.

 

During the course, I developed several of the essential skills needed to perform a competent simultaneous or consecutive interpretation. However, I heard very little, for example, about the many steps that precede the moment of turning the microphone on and starting to interpret. I heard even less about what is considered good practice when it comes to working with colleagues or what you can do to organize yourself financially for a business that fluctuates so wildly throughout the year.

 

My first professional experience in an interpreting booth actually only happened at the end of 2016, after a series of attempts and failures (and a few of life’s setbacks). In the last five years, since that “false start,” I believe I’ve learned a few lessons. However, I am still learning, little by little, to deal with the dilemmas and challenges of being new to this industry—some of which I want to address here.

 

Clients, where are you?

My first reality check, right after graduating, was realizing how hard it is to land your own clients without a referral. Truth be told, nowadays there are several virtual tools to help clients and service providers find each other (whatever the service may be). Even still, it seems that nothing replaces being recommended by someone the potential client already trusts. And with interpreting I found that, unless you already have a privileged contact list, the path to earning those referrals is a long and hard one.

Marketing? What does it taste like?

The consensus in the industry is you have to make yourself known to potential clients and peers alike in the most positive way possible. This is a process that many people tackle naturally. However, there are others, like myself, who are averse to overexposure and unsure about the image they project to the world. We see ourselves forced to overcome a series of hurdles, along with doing a lot of research and occasionally seeking advice from experts. Once again, the amount of material available online (on how to improve your résumé, boost how to boost your LinkedIn profile, or how to create a successful website, for instance) is infinite. The greatest challenge, at least for me, is not in learning self-promotion techniques, but in adapting those techniques to a professional identity that is still taking shape and to a market that isn’t as well known or widely studied by marketing professionals. 

What kind of interpreter am I?

One determining factor of that identity is specialization. I have always read and heard my colleagues say that it is common (sometimes desirable or even necessary) for interpreters and translators to focus on a specific area. In fact, I know of many professionals who often turn down work when it falls outside their area of expertise. But the question is, unless the interpreter comes from another profession, how can he or she choose a specific area right off the bat without any experience? And how can you gain experience (and pay the bills) while refusing job opportunities that force you out of your comfort zone? 

Can you give me a discount?

And while on the subject of “comfort zone,” one of the aspects of a freelancer’s job that causes the most discomfort is negotiating. Knowing how to set a fair price for a service, offering rates that don’t undervalue the work or the industry as a whole, all while not scaring the client off, and having convincing arguments that justify your rates, along with staying calm and maintaining a professional tone during all interactions (even when the potential client reacts poorly to your proposal). This, to me, is an art. And like any art form, it is only mastered through dedication and study.

Learning (more) is a must

“Always stay up to date” is a mantra often repeated by my trainers and confirmed at the conferences and seminars I’ve attended. In fact, I see the search for professional improvement as an increasingly common movement among the interpreters of my generation. However, in spite of the ever-growing number of good training courses, I see a profound lack of graduate-level interpreting programs in Brazil. To me, that is, first of all, a commercial drawback, since we often deal with a conservative target audience that values academic achievement as much as, or even more than practical experience. Not only that, but the academic thinking and production on the interpreter’s craft helps to legitimize the profession. Therefore, everyone loses when there is no room or incentive for that to take place.

There is only love in São Paulo

As if a lack of graduate courses wasn’t enough, the farther we go from metropolitan areas, the greater the challenges of landing clients and promoting our work become, reaching dramatic proportions. And you don’t even have to go very far. Where I live, for example, less than 250 kilometers from the city of São Paulo, there is no record of any other professional interpreter. Yet, even after marketing for and prospecting over 60 local companies, I haven’t received a single request for an estimate in the past year.

Anyway….

I imagine these challenges are common to most beginning interpreters. Since I consider count myself as one of them, I don’t dare to offer any solutions yet. I go on trying to be a part of this difficult but exciting industry, testing strategies and growing my contact network. While job stability doesn’t come, how about we shoot the breeze? Go ahead and use the comments section to write about your greatest challenges and what you’ve been doing to overcome them. We are stronger together!

Tradutor: Erico Sanvicente – Intérprete e tradutor

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