Revisão sensível: Como lidar com temas delicados na comunicação
Em tempos de maior conscientização sobre diversidade, inclusão e direitos humanos, o cuidado com a linguagem se tornou parte essencial de qualquer processo de produção de conteúdo. Nesse cenário, ganha destaque a revisão sensível, uma prática que vai além da gramática e da ortografia para considerar os efeitos sociais, culturais e emocionais dos vocábulos escolhidos.
Este artigo apresenta o conceito de revisão sensível, suas aplicações práticas, os desafios envolvidos e o papel dos profissionais da linguagem ao lidar com temas delicados na comunicação.
O que é revisão sensível?
A revisão sensível é uma etapa da revisão textual que avalia a adequação de termos, expressões e construções linguísticas em relação a grupos minorizados, contextos históricos, experiências traumáticas ou temas potencialmente ofensivos. Ela busca promover uma linguagem mais respeitosa, inclusiva e ética.
Diferente da revisão tradicional, que foca em correções linguísticas normativas, a revisão sensível exige um olhar contextual atualizado e ético, que considere aspectos como:
- Representatividade e estereótipos
- Inclusão de identidades de gênero, raça, deficiência, etnia e classe social
- Exclusão de termos discriminatórios, capacitistas ou ofensivos
- Uso apropriado de linguagem neutra ou afirmativa
- Clareza e cuidado ao abordar temas como violência, luto, saúde mental e sexualidade
Por que a revisão sensível é importante?
A linguagem molda percepções. Palavras reforçam ou desafiam preconceitos, constroem vínculos ou geram exclusão. Uma comunicação negligente pode:
- Reforçar estigmas e estereótipos
- Alienar públicos que deveriam ser acolhidos
- Gerar repercussão negativa para marcas e instituições
- Dificultar o acesso à informação para públicos diversos
Por isso, a revisão sensível não é apenas uma tendência, mas uma prática ética fundamental para profissionais da linguagem, especialmente em conteúdos com ampla circulação ou impacto social.
Exemplos práticos de revisão sensível
Confira abaixo alguns casos comuns onde a revisão sensível é aplicada:
1. Termos capacitistas
- Evitar: “cego para os fatos”, “surdo ao apelo”, “maluco”, “retardado”
- Alternativas: “ignorar os fatos”, “não ouviu o apelo”, “sem noção”
2. Estereótipos de gênero
- Evitar: “homens de negócios”, “a mulher do lar”, “chorar como uma menina”
- Alternativas: “pessoa empreendedora”, “responsável pela casa”, “expressar emoções”
3. Questões raciais
- Evitar: “lista negra”, “denegrir”, “mulata”, “cabelo ruim”
- Alternativas: “lista de cancelamentos ou bloqueios”, “difamar”, “mulher negra”, “cabelo crespo”
4. Abordagem de traumas
Ao falar de temas como suicídio, violência ou abuso, é essencial usar linguagem clara, não sensacionalista, com foco no cuidado e na dignidade da pessoa afetada. Muitas vezes, é necessário sinalizar conteúdo sensível ou possibilidade de ‘gatilho emocional’.
Desafios da revisão sensível
Apesar de seu valor, a revisão sensível enfrenta muitos desafios:
- Subjetividade – o que é ofensivo para um grupo pode não ser para outro.
- Falta de consenso linguístico – nem todas as expressões correntes possuem equivalentes amplamente aceitos – e nem todas realmente embutem preconceitos, o que pode ser fator de polêmica.
- Resistência à mudança – algumas instituições ou autores resistem a alterar textos já consolidados.
- Pressão por prazos – revisar com sensibilidade exige tempo, escuta e pesquisa.
Por isso, a prática exige formação contínua, escuta ativa e empatia profissional.
Quem deve fazer a revisão sensível?
Idealmente, a revisão sensível deve ser feita por profissionais da linguagem que estejam atualizados sobre questões sociais e políticas contemporâneas, conheçam diretrizes de linguagem inclusiva (como manuais de redação inclusiva de ONGs, universidades ou editoras), tenham repertório para identificar nuances e subtextos culturais e sejam capazes de dialogar com autores e equipes editoriais de forma ética e colaborativa.
Quando possível, em situações críticas, é recomendável envolver profissionais de grupos representados nos conteúdos em questão, para ampliar a escuta e validar a abordagem.
A revisão sensível é uma prática fundamental em um cenário em que as palavras têm poder real sobre a vida das pessoas. Mais do que evitar ofensas, trata-se de construir relacionamentos de confiança, ampliar acessos e criar comunicações mais responsáveis e humanizadas.
Profissionais da tradução, revisão e interpretação têm um papel central nesse processo. São eles que, muitas vezes, mediam a relação entre autores, instituições e leitores. Fazer isso com consciência crítica, respeito e sensibilidade é, sem dúvida, um compromisso ético com o presente e o futuro da linguagem. Conheça os profissionais do Catálogo de Tradutores clicando aqui.