O que não nos destrói, nos fortalece.

O que não nos destrói, nos fortalece.

By Pedro Milliet

Já não há mais dúvidas. Acordamos a cada manhã para mais um dia do que se tornou o novo dia-a-dia da nossa profissão. Os eventos em que nós intérpretes, antes de março de 2020, trabalhávamos e que nos levavam a hotéis, centros de convenções e salas de reuniões passaram a ser realizados nas nossas próprias casas, no isolamento de nossas novas cabines domésticas, em modo remoto.

aDAPTAÇÃO

Temos recebido gente do mundo inteiro que vem para nossos quartos improvisados, escritórios adaptados e espaços agora dedicados à execução de nossa missão comunicativa. Tivemos que comprar novos equipamentos, desde uma cadeira mais confortável a um novo microfone, melhorar a qualidade da internet, antecipar e minimizar possíveis problemas relacionados a quedas de energia, cuidar da qualidade de áudio e vídeo, e lidar com barulho na rua, filho que interrompe, briga de vizinhos, cachorro latindo, ambulância de sirene aberta do lado de fora, além do desconhecimento generalizado do que estava acontecendo e como fazer o que muitos de nós não tínhamos o menor traquejo.

Para continuar a fazer o que sempre fizemos, nossa atenção teve que ser ainda mais dividida. Antes, sem essas preocupações adicionais, estávamos apenas preocupados em ter ou não evento no dia seguinte; se havia ou não material de apoio, como prepararíamos nossos glossários, com quem iríamos compartilhar a cabine e, quando chegávamos lá, torcíamos para que o coffee break fosse um espetáculo. Brincadeiras à parte, caso faltasse luz no local do evento, alguém iria ligar o gerador. Caso desse problema no som, os técnicos cuidariam para que voltasse tudo ao normal, e no final da jornada voltaríamos para casa, como se nada tivesse acontecido e imediatamente prontos para o dia seguinte.

MULTITAREFAS

Na maioria dos casos agora, além de sermos os/as intérpretes, também fazemos o comercial, o técnico, educamos e convencemos os clientes, contornamos outras variáveis e nos especializamos na arte de dar conta do recado. E sem coffee break.

Fato é que, precisamos muito rapidamente conhecer o básico da interpretação remota, as aplicações, as diferentes plataformas, a maneira de contornar limitações e descobrir gambiarras para que tudo funcione melhor do que o esperado. Foi necessário nos educarmos quanto ao uso de novas tecnologias. Destrinchamos controvérsias e falta de informação e conhecimento sobre questões de segurança e outros pepinos que se apresentaram. E mesmo com tudo isso em elevado grau de complicação adicional, há ainda quem tente justificar o fato de que estamos trabalhando em casa, como razão para diminuir o valor de nossas tarifas.

Há um alento nesse cenário. Muitos de nós ficamos apavorados com o cancelamento de todos os trabalhos, de uma hora para outra. O calendário do ano inteiro ficou vazio, como as contas bancárias. Porém, as incertezas foram, pouco a pouco, dando lugar a um certo ar de mais confiança, e os sinais de que o mercado se aquece nos deixa um pouco menos inquietos em relação ao que pensamos que iria nos destruir. Já estamos mais fortalecidos para enfrentar o seja lá o que insiste em se manter entre nós.

O uso continuado de plataformas remotas para interpretação se firma como realidade inquestionável.

Organizações internacionais, órgãos do governo, empresas do setor público e privado estão adotando a interpretação remota de forma natural e rápida para a realização de seus eventos, treinamentos e encontros de negócios. Novas modalidades surgem dentro do que se configura como o “novo”. Eventos híbridos começaram a pipocar aqui e ali, misturando o remoto e o presencial para que a bola continue rolando e o mundo dos negócios e do conhecimento continue girando.

Certo é que estamos nos preocupando mais com aspectos de relações públicas, com o nosso marketing pessoal, lidando com valores mais colaborativos, descobrindo como o trabalho em equipe é gratificante, buscando um conhecimento acelerado e compartilhando o que estamos aprendendo uns com os outros. Segurando na mão dos companheiros de profissão para que sigamos juntos, ladeira acima na curva do aprendizado. Juntos somos mais fortes.

Se por um lado, uma pandemia mudou o tom da conversa, entendemos rápido que quanto mais rápido lidássemos com o novo normal de forma natural, eliminaríamos as assombrações, mais rápido nos posicionaríamos e imprimiríamos o padrão no modus operandi. Nada nos parou. Soltamos a voz e continuamos a fazer a tal ponte com nossos nervos de aço.

O que fizemos para sobreviver e nos fortalecer foi aprender, cada vez mais rápido, a usar as adversidades a nosso favor. No mais, tudo isso já soa como passado. Foi lá nos idos de 2020. Você está pronto para o que vem pela frente?

Pedro Milliet é intérprete e tradutor credenciado, qualificado e experiente, com mais de 30 anos de vivência profissional, inclusive tendo vivido cerca de 15 anos nos Estados Unidos. Pós Graduado em Tradução, MBA em Educação Corporativa e Gestão do Conhecimento, Bacharel em Letras (Português/Inglês) e Comunicação Social/Marketing, tendo ocupado cargos de liderança no Brasil e no exterior, incluindo diretoria e vice-presidência em empresas multinacionais de publicidade, tecnologia, engenharia, comunicação corporativa, educação, publicidade, internet, relações públicas, marketing de serviços, atendimento a clientes, planejamento estratégico, treinamento & vendas, hotelaria, turismo e gastronomia.

email: pedropam8@gmail.com