Traduzir palavrões ou não? Quando sim e quando não?
Autora: Michele Lederman
Revisora: Nani Peres
Editora: Meg Batalha
Não falo palavrões. Não tenho esse costume, mas se estou fazendo a interpretação de alguém que usa, acompanho o estilo da pessoa; contudo, nem sempre é a melhor opção…
Num evento de web design totalmente despojado, num imenso galpão, paredes grafitadas, com centenas de pessoas na faixa dos 20-30 anos, vibrando e ovacionando cada palavra que ouviam desse cara, considerado gênio e referência, como eu poderia não falar os 8 palavrões numa frase de 10 palavras? E foi assim por toda a palestra de 2 horas, alternando com a outra intérprete. Na verdade, foi uma liberação para mim! Cada vez que eu desencadeava aquela lista de palavrões, todo mundo vibrava, ria e quem nos escutava, também! Estavam adorando, mandavam tchauzinho, sinais positivos e, mais do que tudo, se sentiam parte da festa!
Evento super formal, público composto de brasileiros, americanos, europeus, australianos, asiáticos: todos acompanhando as palavras de uma autoridade que, num determinado ponto, começa a esculhambar os estrangeiros com palavrões e ofensas.
E agora? Traduzir ipsis literis? Não traduzi. Fui escolhendo as palavras menos ofensivas, criando o conteúdo das frases com muita diplomacia. Enquanto os brasileiros ficaram surpresos com o discurso, que havia criado um certo mal-estar e uma saia justa para quem entendia o português, os estrangeiros ouviram a mensagem sem se sentirem ofendidos. Pensei na hora: será que vão culpar a intérprete? Preferi não correr esse risco. Fiquei dentro da minha zona de conforto e, mais do que tudo, no limite da minha segurança profissional.