Esses intérpretes incríveis!

Você já se sentou numa cabine de interpretação, colocou os fones de ouvido e tentou interpretar o discurso que entrava pelos fones? Eu já. Era um jovem estudante, ligeiramente ingênuo que achava que ser bilíngue era sinônimo de ter capacidade de interpretar simultaneamente.  Os problemas surgiram logo no início. Estava traduzindo a primeira frase, a segunda entrava pelo fone, mas eu não havia prestado atenção suficiente: me lembrava do começo mas não do final. Rapidamente, ‘fiquei pra trás’ e simplesmente não consegui mais abrir a boca pelos próximos minutos!

Muitos anos depois, ainda me lembro vividamente dessa cena e é por isso – mas também por minha pesquisa sobre percepção e produção do discurso oral – que tenho um grande respeito pelos intérpretes e pelo treinamento por que passam para poder realizar seu trabalho.

Medical_Interpreter_SignHá intérpretes de vários tipos (comunitários, de conferência, de língua de sinais) e a interpretação em si se divide em simultânea e consecutiva. Vou pegar dois casos extremos de interpretação que divergem em muitos aspectos, inclusive idade: crianças bilíngues que atuam como intérpretes e adultos que realizam interpretação simultânea.

Muitas crianças pertencentes a minorias (imigrantes, trabalhadores migrantes, deficientes auditivos) atuam tanto como intérpretes consecutivos quanto como intermediários culturais entre suas comunidades e o mundo ao redor. A despeito do fato de elas não terem sido treinadas em interpretação comunitária, as habilidades naturais dessas crianças continuamente nos impressionam. A professora da Stanford University, Guadalupe Valdés, analisou as estratégias adotadas por esses jovens bilíngues e descobriu que usavam uma série de estratégias para transmitir a informação essencial, incluindo tom de voz e postura. Também eram capazes de compensar limitações linguísticas. Valdés concluiu que as características e habilidades que exibiam eram traços de crianças excepcionalmente competentes cognitivamente.

Bilingual-KidsOs autores Brian Harris e Bianca Sherwood, alguns anos atrás, descreveram uma jovem menina italiana (BS) que antes dos quatro anos de idade já interpretava entre o dialeto napolitano e o italiano. Depois ela adquiriu o espanhol quando sua família  se mudou para a Venezuela, e o inglês quando eles se mudaram para o Canadá. Em pouco tempo ela interpretava para seus pais, de e para todos esses idiomas em: telefonemas, conversas, mensagens, programas de rádio e TV, entre outros. Além disso, ela rapidamente desenvolveu habilidades diplomáticas, amenizando rompantes de seu pai ao negociar com não italianos. Certa vez seu pai lhe disse para chamar seu interlocutor de imbecil, ao que ela calmamente falou: “Meu pai não aceitará sua oferta!”

bilingue-7Alguns desses intérpretes mirins acabam se tornando intérpretes profissionais quando adultos, após extenso treinamento em escolas como Monterey ou Genebra. (Obviamente nem todos os intérpretes passam por esse tipo de experiência na infância, embora a maioria tenha tido uma educação bilíngue).

Além de possuir todas as habilidades dos tradutores (*), os intérpretes profissionais devem ter todas as habilidades cognitivas e linguísticas que lhes permita transitar de um idioma para o outro, quer simultaneamente, quer consecutivamente. Por exemplo, interpretação simultânea envolve escutar atentamente, processar e compreender o que entra no idioma de origem, e depois, expressá-lo; isso sem contar o fato de realizar duas tarefas ao mesmo tempo, ou seja, compreender a próxima sequencia conforme se ‘entrega’ a anterior. O pesquisador David Gerver relata que os intérpretes falam em um idioma enquanto escutam a outro por cerca de 75% do tempo!

Os intérpretes devem ativar os dois idiomas com os quais estão trabalhando. Devem escutar o idioma que entra (idioma de origem), mas também o que sai (idioma alvo), não apenas porque precisam monitorar o que dizem, mas também para o caso do orador utilizar o idioma alvo na forma de alternância de códigos (*). No entanto, eles também precisam fechar o mecanismo de produção da língua de origem para que não repitam, pura e simplesmente, o que escutam (como por vezes ocorre quando estão muito cansados!).

Dadas essas exigências do processo, além de conhecer equivalentes tradutórios em inúmeros domínios e subdomínios (p.e. negócios, economia, área médica), assim como variantes estilísticas, não é de se espantar que os intérpretes, assim como os tradutores, são considerados bilíngues especiais. Como tão bem diz o ditado:

É preciso mais do que duas mãos para se ter um bom pianista.

É preciso mais do que saber dois idiomas para se ter um bom tradutor e um bom intérprete!

Texto original redigido por  Francois Grosjean, Ph.D. in Life as a Bilingual: http://www.psychologytoday.com/blog/life-bilingual/201109/those-incredible-interpreters

Trraduzido por:

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