AD: Descreva aquilo que você vê
A audiodescrição ajuda a garantir que pessoas com deficiência visual (cegos ou baixa visão), entre outras, tenham acesso igualitário a eventos culturais por meio do fornecimento da descrição de informações visuais essenciais. Utilizando pausas naturais no diálogo ou narração, a AD insere descrições dos elementos visuais: ações, aparência das personagens, linguagem corporal, roupas, cenários, iluminação, entre outros, que sejam relevantes ao entendimento da narrativa. Nos eventos ao vivo, a descrição é recebida por meio de fones de ouvido sem fios, os quais permitem que os ouvintes sentem-se em qualquer lugar da plateia e recebam a descrição sem atrapalhar os espectadores sentados a seu lado.
O básico
Descreva aquilo que você vê
Eis a primeira regra da descrição: descreve-se o que você vê. Pode-se ver aparência e ação. Não se pode ver motivações ou intenções. Jamais descreva o que você acha que vê.
É possível ver “Jéssica cerrou seus punhos”. Não é possível ver “Jéssica ficou brava”, ou pior ainda, “Jéssica ficou brava com Daniel”.
Analise o material previamente, atentando para as informações visuais inacessíveis às pessoas com baixa visão: elementos-chave do enredo, personagens, lugares, ações, objetos, fontes de áudio desconhecidas não mencionados no diálogo ou desprovidas de clareza para o ouvinte. Concentre-se no que é mais importante e menos óbvio com base no diálogo ou em outras informações da trilha sonora. É impossível descrever tudo – descreva o que for possível no tempo disponível.
Mencione quem atende o telefone – não que o telefone está tocando. Não é preciso descrever sons cuja interpretação seja óbvia.
Priorize a descrição do essencial e, caso haja tempo, descreva elementos extras, tais como detalhes da decoração do cenário, a aparência física e trejeitos das personagens, paisagens, estilo da roupa, cor, luzes e textura. Este tipo de descrição funciona bem durante longas pausas na ação ou durante trocas de cena.
A descrição não precisa preencher todas as pausas. Menos é mais. A audiodescrição não é uma simples sequência de comentários. É preciso que os ouvintes tenham tempo para ouvir as emoções nas vozes dos autores e na tensão dos silêncios entre os diálogos.
Descreva sempre, com a maior distanciamento subjetivo possível, detalhes que a plateia com visão consegue observar sem se dar conta de sua importância posterior.
Por exemplo, descreva que Jéssica está brincando com uma pistola e a coloca em cima da mesa. Depois, quando Daniel e Jéssica estão discutindo fervorosamente e Jéssica corre para a mesa, a plateia com visão suspeitará que ela está correndo para pegar a arma. Com a descrição de ambas as ações, os ouvintes usuários da descrição também participarão da expectativa de suspense.
Assim, percebemos que a audiodescrição passa a ser uma ponte entre o espetáculo ao vivo e as pessoas que estiverem recebendo a descrição. Os usuários da AD, em sua maioria pessoas com deficiência visual, também podem ser pessoas com dislexia, estrangeiros, idosos, crianças com dificuldade de aprendizado e, em casos especiais, o público em geral, que queira, quando o equipamento de recepção estiver disponível em número suficiente, vivenciar a experiência de assistir a um espetáculo ao vivo com o recurso de audiodescrição.
Autor: Carlos Abelheira – Intérprete, tradutor e audiodescritor
Revisora: Ana Júlia Perrotti-Garcia – Intérprete, tradutora e audiodescritora
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